segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Esperance, um nome sugestivo para a minha última viagem como residente na Austrália

Pois é, passa rápido, a gente se apega e depois fica difícil de ir embora. Essa é a parte chata de ser expatriado num lugar como Perth. Como diz meu marido: “ACABOU O MILHO, ACABOU A PIPOCA”.  São as agruras de ser um imigrante, com um visto temporário de trabalho.

Estamos voltando pro Brasil, que afinal, é minha terra, minha Pátria e de onde ninguém pode me tirar. Amo o Brasil, mas agradeço todos os dias ter tido a oportunidade de viver num país de primeiro mundo, sem a “neura” da segurança e corrupção.

Valeu a experiência,  valeu cada dia, cada amigo, cada lugar... E vale mais ainda por poder deixar os filhos por aqui, mesmo com o coração apertado, mas com a certeza de um futuro mais promissor para ambos. Sempre os criei para o mundo e sabia que um dia isso aconteceria. Chegou a hora.

Portanto mais uma vez vamos em frente, recomeçando, mudando, renovando energias!

E pra fechar mais esse ciclo de vida em Down Under, decidimos fazer nossa última viagem como residentes para ESPERANCE, com esse nome sugestivo e que reflete o sentimento de que um dia voltaremos a viver aqui.

ESPERANCE fica há 8/9 horas de carro a sudeste do estado de WA. Se vc achar muito cansativo, também há voos diários pela Skywest Airlines e aí só levará uma hora pra chegar ao paraíso. Caso vc queira ir pela estrada, aí vai o meu conselho: leve com você um cooler bem recheado de lanches e bebidas e abasteça o carro sempre que lembrar porque ficamos sem ver postos de gasolina e bares/restaurantes por muitos quilômetros.  Isso foi uma coisa que aprendi aqui na AU, sempre viajar com comida e bebida. Não é como no Brasil, onde vc tem vários lugares pra comer ao longo da estrada. Aqui é tudo muito deserto e as vezes vc passa um tempão sem cruzar com um carro sequer. Portanto...leve sempre o seu farnel. Isso também vai baratear sua viagem, acredite!

1º DIA

Lá fomos nós, pela estrada afora... pela Albany Hwy, que começa super arborizada na região próxima as Hills de Perth, com reflorestamento de pinheiros por longas extensões e vai ficando árida, muito árida. 



E nesse cenário de seca e planalto, o único colorido que surge vem das lindas árvores amarelas que florescem nessa época do ano, destacando-se entre plantas queimadas e retorcidas.




Passamos por lugarejos como William, West Artur, Wadin, Dumbleyung, Newgate (onde abastecemos o carro), Lake Grace, Lake King e Ravensthorpe. Lagos brancos de tão secos, muita areia e áreas enormes dos cinturões de trigo.

Em alguns desses lugares,  eu me sentia dentro de um cenário de faroeste... a poeira levantando numa cidade quase que absolutamente deserta. Sem o Google Maps ficaria difícil de dizer se estávamos no caminho certo pois as placas de orientação não são vistas com muita frequência. 

Apesar de não ser uma super estrada, o estado de conservação é perfeito. Ainda assim, fique muito atento...vimos muitos cangurus e papagaios mortos pelo caminho e dois cangurus cruzaram a nossa frente.  Felizmente, tivemos tempo de diminuir a velocidade e desviar.

Depois de ter escutado todos os CDs do carro (mas todos mesmo), finalmente chegamos de tardezinha em ESPERANCE, uma cidade bem simpática e pacata onde vivem em torno de 13.000 pessoas.




Esperance foi descoberta em 1627 pelo holandês Gulde Zeepaard, mas seu nome vem do navio francês Espérance, que durante uma tempestade em 1792, buscou abrigo nesse arquipélago. Daí o nome ESPERANÇA (em português). E as ilhas (digo, o arquipélago) em volta da cidade tem o nome do outro navio que estava com o Espérance, o Recherche.

Nosso hotel, o Confort Inn Bay of Isles,  fica na rua principal da cidade, 32 The Esplanade. Recomendo muitíssimo esse hotel porque a relação custo-benefício é maravilhosa. A diária é bem barata para os padrões australianos de cidades turísticas - AU$130. O quarto tinha tudo que precisávamos: uma super TV HD, um frigobar, ótima cama king size, bom banho e toalhas sempre limpinhas. Fomos muito bem recebidos por uma senhora que tem um welcome script de na ponta da língua: entrega o mapa da cidade, fala sobre os principais pontos turísticos, oferece os serviços do hotel e dá dicas de passeios, uma fofa!

É claro que Esperance tem lugares muito mais aconchegantes (com preços nem tanto) em Luxury B&B ou pousadas e resorts, mas asseguro que pra dormir bem e descansar da praia, esse hotel é perfeito!

Largamos nossas coisas no quarto e fomos dar uma volta aproveitando as últimas horas claras do dia. Pegamos a Great Ocean Drive e paramos num mirante que tem vista pra cidade. O dia estava chuvoso e fiquei pensando se teria valido à pena... 





Até que...MEU DEUS, que mar é esse? Que cor de água é essa? Se sem sol era aquilo, fiquei imaginando com o céu azul e o sol brilhando forte!






Essa Great Ocean Drive é uma das estradas mais lindas estradas que já vi, dessas que vc pode passar toda hora e que nunca vai se cansar de admirar. E toda vez que passa, o colorido é diferente. A única coisa que não muda é o ESPETÁCULO DE  BELEZA. A água do mar é turquesa, completamente transparente e os recortes da geografia fazem tudo ficar ainda mais lindo, como uma moldura que valoriza a obra.

A partir desse passeio, já sabíamos o que fazer e onde ir no dia seguinte, era só esperar o sol.

Nessa primeira noite jantamos no hotel, mas não recomendo. Muito caro pra pouca qualidade. Busque um restaurante na cidade (que esteja funcionando) ou coma uma pizza no RICARDO’S PIZZA, bem gostosa e barata.

2º DIA

Acordamos cedinho e apreensivos fomos checar o tempo porque tinha chovido forte a noite toda. NUBLADO, bem feio. O jeito era sair pra tomar um bom café ( o hotel tem café, mas é caro) e dar uma caminhada pela orla (até em Esperance tem pistas de caminhada). Por indicação de uma amiga querida, fomos tomar café no OLLIE’S, bem pertinho do hotel e ao lado da Pizza do Ricardo. Eles têm todo tipo de breakfast lá, realmente uma delícia. Provamos bolos, ovos bennedict, café latte, torradas com manteiga e geléia, quase um almoço!




Dali fomos caminhar na Esplanade (depois me arrependi de não ter feito a trilha pela Great Ocean Drive, muito mais bonita!). Ventava muito e mesmo assim, a quantidade de moscas que nos acompanhou durante a caminhada era impressionante. Esse é definitivamente o maior incômodo do Verão na AU. Elas deixam a gente de mau humor e atrapalham qq diversão, um sacooooooooo! Olhem só as costas da camiseta do Ramírez!



Levar o repelente é mandatório, mas ele só ajuda nos primeiros minutos. Acho que depois vira aperitivo! rsrsrsrsrs

E pra nossa surpresa, de repente,  o tempo começou a clarear, o sol saiu pra valer e o céu ficou azul. Deve ser porque venta muito e acaba levando o mau tempo embora. Tratamos de voltar pro Hotel, pegar nosso cooler e comidinhas e rumar para as lindas praias que havíamos visto na tarde do dia anterior. Fica até difícil de escolher onde parar e fincar a barraca. Dá só uma olhada nisso....





Paramos logo na primeira praia, a West Beach. 




Tiramos fotos e seguimos pra uma outra menorzinha chamada Salmon Beach. Ali, apesar da quantidade de moscas que não deixam a gente em paz, fincamos nossa barraca pra admirar o mar. Os contrastes de azul são de tirar o fôlego. A transparência da água é impressionante. Acho que só no Caribe e no Pontal do Atalaia em Arraial do Cabo (RJ) vi algo parecido.  E quantos peixinhos! A areia é branca de doer os olhos e fininha como a de Cabo Frio (RJ). Essa foi uma das mais bonitas dessa orla, com piscininhas escondidas entre as pedras formando um cenário mais lindo ainda.










Passamos por Blue Haven e fizemos mais uma parada em Twilight Bay, onde fica o COVE, essa formação rochosa em forma de buraco, mais um toque diferente na paisagem. A gente até entrou na água, mas estava frio pra nadar, uma pena! Talvez o mês de Janeiro seja melhor pra aproveitar mais a praia.











Dali seguimos pra 10 Miles Lagoon, uma praia que forma piscinas naturais entre rochas, que lamentavelmente estavam cobertas pelo mar, acho que em função da hora e da maré.
Ficamos tirando fotos e admirando o lugar até que... eis que para um carro na areia e desce um cara completamente nu, sem a menor cerimônia! Aí lembramos que do outro lado tinha uma praia de nudismo. Ah, então tá!






E até aqui tem banheiros!




Acima os wind mills, de onde se tira boa parte da energia da cidade. Com todo esse vento....



Bem, já era perto das 2 PM e a fome começou a apertar. Decidimos continuar na estrada e comer nosso lanche olhando a vista do PINK LAKE, uma lago que em determinadas épocas fica totalmente cor de rosa em função de uma combinação de algas, salinidade, temperatura e uma bactéria. Taí a explicação pra quem se interessar. 



Uma pena não conseguirmos vê-lo com essa cor. Ele estava bem normal!



 
Mas aí vai uma foto da internet pra não me deixar mentir...




Fizemos nosso picnic na companhia das moscas, claro, e de uma ilustre visitante...uma cobrinha. 
Essa é a Austrália...tubarões, águas-vivas, crocodilos, aranhas, cobras, gafanhotos, sapos e MOSCAS.  Tudo muito intenso, exuberante, selvagem, mas num cenário de beleza rara!

Voltamos pro hotel pra descansar e à noite fomos prestigiar a PIZZA do RICARDO. Comemos uma deliciosa Margheritta. Recomendo!!

3º DIA

Acordamos animados. O dia estava lindo e íamos pegar a estrada novamente para visitarmos o Cape Le grand National Park, há 50 km de Esperance e onde existem praias ainda mais belas. 

Reabastecemos nosso cooler e lá fomos nós!




A entrada do Park custa AU$ 12 por veículo e você recebe um mapinha para explorar o parque com mais confiança. As estradas são boas, com sinalização satisfatória e vistas de perder o rumo (literalmente)!




Começamos pela praia que é considerada a mais bonita de todas – LUCKY BAY (eu gostei mais de outra que mostro já já). Mas essa é linda também.




Paramos o carro na areia  - vc pode parar se tem um carro tipo SUV – mas aviso logo: tomem muito cuidado com a maré porque se for dar uma caminhada longa pelas areias brancas dessa praia paradisíaca, pode encontrar seu carro boiando na volta...tipo São Luís, no Maranhão.



Bem, nós fomos caminhar até o fim dessa praia e confesso que eu não deixei de acompanhar a maré um só minuto, fiquei tensa porque a gente para muito pertinho do mar. Mas pelo menos ficamos em dia com o exercício pra compensar a quantidade de cerveja que tomamos - rsrsrsrs

Ventava muito e chegava a fazer frio. Tive que colocar o casaco...Uma pena porque o mar estava lindo e convidativo!







Da linda Lucky Bay seguimos em direção a Rossister Bay e olha só  quem veio nos cumprimentar na estrada!



Canguru no meio da estrada e canguru escondido! O mais bonitinho é ver eles saltando!




Dali  fomos direto até Thistle Cove (vejam abaixo o por que do nome), para mim a mais linda praia de todas em Cape Le Grand e a nossa escolhida para o “almoço” com vista para o mar!
É ou não é um espetáculo?







Nesse lugar, encontramos uma pedra enorme onde ecoa o barulho do mar e uma placa contando uma lenda aborígene. É sempre tão interessante essa cultura local! E as histórias me lembram tanto as lendas e crendices brasileiras!





A próxima “visão” também merece aplausos – Hellfire Bay, uma praia simpática, onde os turistas param pra fazer churrasco e aproveitar o mar turquesa.







O cuidado e o respeito com o meio-ambiente ainda me surpreendem até hoje (até em lugares remotos como esse).  Adoro tudo isso!





Ainda visitamos essa última praia do Parque e pra nossa surpresa, descobrimos que havia um grande risco da reserva arder em chamas a qualquer momento, de tão seco que é o clima no local. Vejam como o pessoal sinaliza que isso pode acontecer...





Na saída do parque ainda paramos para fotografar o Frenchman Peak, um pico que pode ser “escalado” através de uma trilha feita em pouco mais de uma hora e de onde imagino...deve-se ter uma vista fantástica do parque. Passamos batidos...não tínhamos a menor intenção de escalar nada - rsrsrsr - ainda mais com risco de fogo no parque!




Pé na estrada de novo,  rumo a Esperance. Descanso no hotel, um sunday de chocolate à tardinha no Mc Donalds e mais um passeio pela Great Ocean Drive pra me despedir da paisagem.




E chega de lanche! À noite pedi pro Ramírez me levar no restaurante chinês da cidade. Queria uma comidinha de verdade! Pronto, fechamos a noite.

4º. DIA

No dia seguinte, depois de uma noite bem dormida e um super café no quarto, fechamos a conta do hotel, abastecemos o carro e partimos de volta pra Perth, dessa vez, fazendo uma parada no meio do caminho em WAVE ROCK.





Depois de 383 km e mais ou menos umas 4 horas de estrada, bem no meio do caminho, chegamos a esse lugar exótico, que ficou famoso porque um fotógrafo ganhou o prêmio KODAK de fotografia em 1963 na Ney York International Fair, quando inscreveu a foto da então desconhecida rocha em forma de onda.




Apesar da aridez, da secura,  da vegetação retorcida, das moscas insuportáveis nessa época do ano, não posso deixar de reconhecer a peculiaridade do lugar.  




A Wave Rock tem 100 metros de comprimento e altura de um prédio de 15. Acredita-se que essa formação rochosa que ficava sob a terra,  teve início há 60 milhões de anos.  



Vou tentar explicar e resumir com minhas palavras esse fenômeno da natureza:

Essa pedra gigante encontrava-se sob a terra e adquiriu esse formato depois da ação constante da chuva por muitos anos, erodindo a rocha. Depois de outros eventos da natureza, essa rocha finalmente “submergiu” mostrando esse formato curioso de onda, hoje “surfada” por turistas do mundo inteiro. Inclusive por essa escritora que vos "fala"....



Aqui, assim como em todas as regiões da Austrália, os contos e lendas aborígenes também estão presentes, acrescentando mais tempero a esse lugar quase mágico no meio do NADA.





Além da famosa WAVE, existem outras atrações no local pra quem tiver disposição para todas as trilhas propostas e incluídas no ticket de AU$10. Não foi o nosso caso. O calor incomodava e as moscas deixam qualquer santo de mau humor. Ainda mais com fome!

Almoçamos na picnic área (aqui também tem), rodeados de moscas e num calor de matar.

Digo o seguinte: se vc vai passar por Wave Rock, vale super à pena dar uma parada. Se tiver que desviar muito do seu caminho, não vá,  só procure imaginar e ver as fotos, a menos que você esteja viajando no Inverno, onde vc terá muito mais paz pra visitar o lugar (se não tiver chovendo muito).

E falando em chuva, vejam que interessante...Como é uma região muito seca, eles represam toda a água de chuva para que não falte água nunca.




Dali até Perth foi bem tranquilo. Por volta das 5 PM já estávamos nas imediações das “montanhas” da cidade, numa “winding Road” cercada de pinheiros e eucaliptos, mudando a paisagem chatinha e monótona das estradas de WA.




Esperance foi mesmo nossa última viagem como residentes de Perth, mas com certeza não será a última na Austrália, isso eu garanto!



4 comentários:

  1. Que belas fotos Monica. Tambem fomos a Esperance ha uns anos atras e adorei. Aquela areia branquinha e aguas transparentes sao uma maravilha. Pena mesmo as moscas, nao e? Ja ouvi que este Verao vai ser pior do que normalmente... Uma ultima viagem que deixa boas recordacoes. Tudo de bom para voces no Brasil. xxx

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  2. Obrigada minha querida! Uma das coisas boas de Perth foi conhecer vocês! Beijos.

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  3. Ola Monica!
    Conheci o seu blog atraves da Sami. Eu sou Portuguese, mas morei em Belo Horizonte, no Brasil, durante 3 anos. Eu tambem tinha o sonho de ir para a Australia, mas infelizmente nao deu. Agora moro em Praga e adoro, por isso nem vou reclamar ;)
    Boa sorte no regresso ao Brasil!

    Sara
    http://asvoltasnomundo.blogspot.pt/

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  4. Legal Sara! Tb conheci Praga ano passado. É uma linda cidade!!! Beijos!

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